Startups paraibanas apostam em sustentabilidade e impacto social para transformar mercado e atrair investidores
3D Eco House e Go Beesiness mostram como ideias inovadoras estão moldando futuro do empreendedorismo na Paraíba

Quando o assunto é empreendedorismo, dar os primeiros os sempre requer muito estudo, análise e planejamento. Buscar um diferencial é um dos principais fatores que podem impulsionar a sobrevivência e o sucesso de um negócio. Para os que estão no início da jornada, a palavra inovação ganha cada vez mais força e, hoje, é facilmente associada às empresas de tecnologia, por exemplo. Foi desse segmento que, nos anos de 1990, surgiram as startups, termo que nasceu no Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, berço de empresas como Facebook e Apple. Uma startup é uma empresa com potencial de crescimento e proposta de negócio inovadora e que não precisa, necessariamente, estar voltada ao campo digital, mas que utiliza a tecnologia como base. De acordo com levantamentos recentes feitos pelo Sebrae/PB, no estado, aproximadamente 32 % das startups estão na área de saúde, 22 % na educação e 16% ligadas a construção civil e mercado imobiliário.
Foi dentro de uma instituição de ensino que surgiu a 3D Eco House. A startup foi fundada em dezembro de 2022, é a primeira em impressão 3D em concreto (3D) da Paraíba. De acordo com Vinícius Rodrigues, um dos fundadores, a ideia surgiu de um projeto de pesquisa com alunos de engenharia elétrica, mecânica, automação industrial e engenharia civil do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), no Campus João Pessoa. “O professor Marcos Alyssandro Soares decidiu trabalhar com impressão 3D. Durante a pandemia, ficamos apenas na leitura e produção de artigos. Com a flexibilização, voltamos aos laboratórios ainda como um projeto de pesquisa. Nesse momento, a empresa foi sendo pensada porque existiam muitos editais de pesquisa voltadas para o empreendedorismo. Então, era tirar a ideia de pesquisa e levar para o mercado”, explicou Vinícius.
O viés sustentável dentro da construção civil, atrelado à tecnologia, foi o caminho escolhido para a startup. “O cimento é um material danoso ao meio ambiente. Apesar da importância, a gente não tem nenhum material que consiga substituir de forma total esse produto, mas a gente consegue substituir de forma parcial. O grande objetivo da gente é trabalhar com impressão 3D, trabalhando também com baixo teor de cimento e, com isso, trazer um viés sustentável para a empresa”, contou Vinícius. Para sair de um projeto de pesquisa e se tornar uma startup, a 3D Eco House recebeu auxílios financeiros pelo programa Centelha PB e pela Fapesq, do Governo do Estado da Paraíba. A equipe também ou por aconselhamentos do Sebrae/PB. “Para que conseguíssemos tocar esse projeto, além do aporte financeiro inicial, também tivemos a mentoria e as capacitações oferecidas pelo Sebrae/PB nas questões de modelo de negócio e processos de compra e venda”, destacou. Agora, para que a startup consiga avançar e começar a produzir peças maiores para a habitação, são necessários novos investimentos. “Nosso objetivo é uma impressora maior para trabalhar com construções modulares que é uma tecnologia que consegue dividir a casa em partes para serem montadas depois. Só que precisamos realmente montar uma impressora maior, que comporta a casa de forma contínua e, para isso, estamos buscando um investidor”, reforçou Vinícius.
De acordo com Joacir Souto, analista técnico do Sebrae/PB, os investidores já veem as startups como boas oportunidades. “O apetite dos fundos evoluiu: procuram equipes que demonstrem tração inicial e mercados grandes. Os investidores buscam métricas de receita recorrente e escalabilidade comprovada. Modelos de impacto em saúde e educação ganham destaque, pois resolvem problemas públicos relevantes. Assim, startups são vistas como oportunidades atraentes”, destacou o analista.
Uma outra startup que resolveu transformar lacunas de mercado em oportunidade foi a Go Beesiness. Em 2019, o jornalista e consultor Vinnie de Oliveira utilizou a familiaridade que já possuía com a tecnologia e uniu empreendedorismo e educação de forma inovadora. “O conhecimento está disponível na internet, mas disperso, confuso e muitas vezes inível para aqueles que mais precisam. A Go Beesiness é uma startup muito ligada ao propósito de impacto social. Nossa atuação é totalmente dedicada a olhar para públicos menos favorecidos. A gente utiliza inteligência artificial para contribuir e trazer um aspecto ainda mais humano. Queremos fazer com que as pessoas façam melhor com o apoio da tecnologia. Temos uma vertente de educação pelo WhatsApp, por exemplo, que hoje é a ferramenta mais inclusiva do mundo. A gente consegue apoiar pessoas, até analfabetas, com a formação através de WhatsApp e também ajudamos empresas e pessoas na área do trabalho da empregabilidade fazendo análise comportamental”, destacou Vinnie.
Com reconhecimento também no exterior, a Go Beesiness já recebeu vários prêmios, aprovações em editais e bom posicionamento em rankings nacionais. “Ficamos em Top 10 do Sebrae Nacional, no Startup Nordeste, já fomos Top 50 no Capital Empreendedor que é um programa também do Sebrae Nacional para aproximação de startups e investidores”, comemorou.
A busca por consultorias e orientações neste seguimento tem se fortalecido aqui na Paraíba. De acordo com Joacir Souto, analista técnico do Sebrae/PB, programas como o Startup Nordeste/Paraíba receberam, em 2024, quase 300 inscrições e selecionaram cerca de 130 projetos, sinalizando um ecossistema em expansão. “A startup é uma boa opção para quem quer começar a empreender porque permite validar uma solução real gastando pouco e ganhando velocidade. Em vez de fabricar em escala ou abrir várias filiais, o empreendedor lança um MVP (produto mínimo viável), mede a resposta do mercado e ajusta rapidamente, reduzindo risco financeiro. Somam-se a isso a capacidade de escalar para mercados nacionais ou globais sem que os custos cresçam na mesma proporção e o o crescente a comunidades de apoio e capital específico para inovação”, explicou.
Para Vinícius Rodrigues, da 3D Eco House, ainda é preciso que os investidores percebam o potencial das startup. “Os construtores, às vezes, não estão dispostos a financiar esse tipo de projeto em fase inicial, eles buscam algo mais consolidado. Mas acreditamos no potencial do nosso produto e acreditamos que, em breve, conseguiremos chegar em uma nota etapa”, afirmou.